Azeredo Lopes, ministro da Defesa português e velho amigo do MPLA, foi esta segunda-feira recebido de surpresa pelo Presidente de Angola, João Lourenço, em Luanda, e à saída da audiência disse que os dois países partilham uma amizade e cooperação, que não é perturbada por “incidentes”. Como é óbvio. E quando há ”incidentes” lá estão os políticos para pôr na ordem o poder judicial.
Da agenda oficial divulgada pelo Ministério da Defesa português constava apenas que o ministro José Azeredo Lopes iria ter um encontro privado com o seu homólogo, general Salviano de Jesus Sequeira, seguido da 17ª reunião bilateral luso-angolana no domínio da Defesa, ambos em Luanda.
O convite para a audiência com João Lourenço não constava assim do programa e, após a abertura da reunião bilateral, Azeredo Lopes reuniu-se com João Lourenço num breve encontro. Os amigos são, como muito bem sabem os portugueses, para as ocasiões.
À saída, em declarações aos jornalistas, o ministro da Defesa português declarou que Angola e Portugal partilham uma relação de “história comum, de amizade e de cooperação, que evidentemente não é perturbada por pequenos incidentes”. Evidentemente.
O governante português considerou excelentes as relações entre os dois países no domínio da defesa, área em que “sempre trabalharam muito bem”. E, convenhamos, quem diz na defesa diz em tudo o resto, desde que Portugal aceite e cumpra as ordens superiores que o MPLA/Estado dá. Simples.
Segundo Azeredo Lopes, do chefe de Estado angolano leva para o Governo de Portugal “uma mensagem de amizade e de normalidade”.
“As relações entre os dois países são tão históricas, tão antigas, que evidentemente a minha presença é um convite que me foi endereçado pelo ministro da Defesa de Angola, há bem mais tempo do que os factos recentes que têm sido notícia, isso significa normalidade, o reiterar de uma relação de amizade, que traduz na circunstância de eu ter convidado o ministro da Defesa de Angola em retribuição a esta visita”, referiu o ministro.
Sobre a vinda do primeiro-ministro de Portugal a Angola, António Costa, o ministro da Defesa português, que é o primeiro governante português a visitar Luanda depois de na quinta-feira o Tribunal da Relação de Lisboa ter aceite – conforme pretendia o Governo angolano, o Governo português e o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa – remeter para o arquivo morto do poder judicial do MPLA o processo que envolvia o ex-vice-Presidente da República de Angola, Manuel Vicente, disse ter a certeza que virá cá.
Para Azeredo Lopes, as relações entre os dois países “nunca foram interrompidas”, porque isso não existe “entre amigos e povos que se amam e se respeitam”. Embora o amor não seja recíproco, é bem certo que os políticos portugueses amam de forma “sui generis” o partido que governa Angola desde 1975. Aliás, é um amor à moda antiga blindado a todas as modernices. Ou seja, segue à risca o adágio: “Quanto mais me bates mais eu gosto de ti”
Pode sempre “haver aqui e ali um ou outro percalço, uma ou outra divergência (…), mas prevalece sempre aquilo que são os laços históricos e a grande amizade e a grande relação que existem entre os nossos dois países”, sublinhou Azeredo Lopes.
Durante a sua estada em Angola, o governante português cumpre uma agenda de trabalho iniciada hoje com a abertura das conversações da 17ª reunião bilateral luso-angolana no domínio da Defesa, tendo como ponto mais alto a assinatura, na quinta-feira, do novo Programa-Quadro para 2018-2021.
Azeredo Lopes vai igualmente realizar visitas à Escola Superior de Guerra, Academia Naval, três projectos de cooperação técnico militar no Lobito, província de Benguela, à Brigada de Forças Especiais e à Escola de Fuzileiros Navais.
Foto: Pedro Parente/Angop
Folha 8 com Lusa